Sérgio Fernandes: Fundo sem fundo


by Andreia Magalhães, July 2022


Fundo sem fundo é uma exposição que reúne cerca de quarenta pinturas de Sérgio Fernandes realizadas entre 2021 e 2022 no âmbito de uma residência em que foi desenvolvido um projeto de criação e investigação artística sobre a cor e a perceção visual. A residência decorreu no Centro de Arte Oliva e no atelier do artista em Lisboa. Esta é a segunda exposição realizada no Centro de Arte Oliva a partir de um programa de residências que se desenrola em estreita colaboração com artistas que trabalham em Portugal e cujo objetivo é que novas obras sejam criadas em relação com este Centro e possam ser apresentadas publicamente. Embora não se trate de um programa para a criação de obras site-specific, estes projetos estabelecem uma relação única entre os artistas, as obras criadas e o Centro de Arte Oliva. Em Fundo sem fundo, Sérgio Fernandes aprofundou ao longo de um ano o trabalho que tem vindo a desenvolver exclusivamente com pintura a óleo, em composições não figurativas ou representacionais, ensaiando múltiplas possibilidades de cor e luz. O que vemos nestas pinturas é o resultado da interação de diferentes pigmentos e da sobreposição de camadas de tinta, velaturas, cores que dão origem a outras cores e se alteram consoante a incidência da luz e o posicionamento do espectador.

Estão em exposição vinte e nove pinturas sobre tela e quatorze pinturas sobre papel. Nas pinturas sobre tela o artista explorou formatos quase miniaturais, mas sobretudo a grande escala permitida e encorajada pelas características arquitetónicas do Centro de Arte Oliva. Já nos suportes em papel, todos de igual dimensão e bem mais invulgares na sua obra, anunciam-se novos caminhos de composição em que dominam os vermelhos, violetas, azuis e verdes-escuros, que se estruturam em áreas de cor distintas, revelando efeitos de maior densidade ou mais atmosféricos, e cuja transição é quase impercetível. Em algumas pinturas a superfície é brilhante, criando zonas de luz e de reflexão de luz, enquanto noutras é completamente mate. A cor, pela sua inseparável relação com a luz, é esquiva, difícil de apreender, conter ou controlar. Na exposição, cada pintura permite-nos essa experiência da cor: movemo-nos e posicionamo-nos em frente e de lado, afastamo-nos e aproximamo-nos na tentativa de descortinar os planos, de destrinçar a superfície do fundo, de compreender onde começa uma cor e onde se dissipa para dar origem a outra. Pelas suas grandes áreas de cor, estas pinturas, quase monocromáticas e totalmente abstratas, parecem no entanto conter um peso que se adensa na sua relação entre si e com o espaço. Expostas em conjunto, tornam-se numa experiência eminentemente física da cor que se vai desenrolando ao longo da exposição em diferentes gradações e temperaturas. Este projeto e exposição que dele resulta não teriam sido possíveis sem uma conjugação de esforços de todos os que neles participaram. A primeira palavra de agradecimento e reconhecimento é naturalmente devida a Sérgio Fernandes, com quem trabalhar, pensar e partilhar foi um estímulo. Um particular agradecimento é dirigido à inesgotável dedicação da equipa do Centro de Arte Oliva, que a cada novo projeto se renova em entusiasmo e rigor em todos as fases e frentes de trabalho. A minha gratidão é extensível a todos os colaboradores que trabalham connosco regularmente na construção deste projeto artístico.
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